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"Condefé": conservação de espécies frutíferas do Cerrado e economia circular

"Condefé significa subitamente e inesperadamente", explica a pesquisadora Joelma de Paula. Por isso, o nome do projeto! "Fazemos uma alusão ao fato de que os frutos cagaita e gabiroba, embora abundantes, ocorrem em períodos curtos do ano, ou seja, condefé já acabaram e só no próximo ano para tê-los novamente", diz.

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Letícia Jury

25 de julho de 2024

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Compartilhar conhecimentos de forma mútua! Essa é uma das definições que a coordenadora Joelma Abadia Marciano de Paula dá ao projeto “Condefé tem Cagaita e Gabiroba no Cerrado” durante entrevista ao Baru. Ela acrescenta que famílias dos assentamentos, pesquisadores (professores) e alunos de pós-graduação aprendem uns com os outros, e criam um ciclo de troca de informações, experiências, ensino e aprendizagem.

“Temos a oportunidade de fazer uma verdadeira imersão na realidade das comunidades, que serão diretamente impactadas pelos resultados das nossas pesquisas. É uma experiência incrível, difícil de traduzir em palavras. E o melhor é que o projeto está apenas nos seus seis meses iniciais, ainda há muito caminho para percorrer”, destaca a pesquisadora.

Joelma de Paula é graduada em Farmácia pela Universidade Federal de Goiás, mestre e doutora em Biologia pela UFG, com estágio pós-doutoral em Inovação Farmacêutica. Atualmente, é professora do quadro efetivo da Universidade Estadual de Goiás, onde ministra as disciplinas Farmacognosia II, Homeopatia e Bioprodutos Vegetais do Cerrado. Ela também orienta nos Programas de Pós-graduação stricto sensu da Universidade Estadual de Goiás: Recursos Naturais do Cerrado (RENAC) e Ciências Aplicadas a Produtos para Saúde (CAPS).

Leticia Jury - Condefé! Fale um pouquinho sobre a expressão que deu nome ao projeto?

Joelma de Paula -  O título do nosso projeto se apropria de uma expressão regional do estado de Goiás, “quando dei fé”, reunida em uma única palavra. “Condefé” significa subitamente e inesperadamente. Fazemos uma alusão ao fato de que os frutos cagaita e gabiroba, embora abundantes, ocorrem em períodos curtos do ano, ou seja, condefé já acabaram e só no próximo ano para tê-los novamente. Cagaiteiras e gabirobeiras são frutíferas nativas do Cerrado, cujos frutos são apreciados para consumo in natura pelo sabor peculiar. Em muitas regiões do Cerrado essas espécies são impactadas por práticas de manejo de pastagem ainda muito utilizadas.

Letícia Jury - Qual o objetivo do projeto?

Joelma de Paula - Nosso projeto visa engajar famílias de assentamentos rurais do Vale do São Patrício, em Goiás, como agentes da conservação dessas frutíferas na região e, ao mesmo tempo, contribuir com a geração de renda das famílias, promovendo modelos de economia criativa e circular em torno dos frutos e seus bioprodutos. Submetemos nossa proposta à chamada pública 02/2023 – Produtos e Serviços da Natureza: Soluções para fortalecer as cadeias da sociobiodiversidade da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás em parceria com a Fundação GrupoBoticário e fomos aprovados.

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Letícia Jury - Como os objetivos serão alcançados?

Joelma de Paula - Para atingirmos os objetivos do nosso projeto, estamos executando etapas organizadas em quatro eixos interconectados: 1- Diagnóstico e acompanhamento participativo, por meio de rodas de conversa entre as famílias e a equipe do projeto; 2 – Estudos ecológicos e botânicos; 3 – Estudos de técnicas pós-colheita para investigação das melhores condições de armazenagem e conservação dos frutos; 4 – Estudos físico-químicos e de bioatividade dos frutos. Os resultados retornarão para as famílias por meio de encontros, rodas de conversa e capacitações. Espera-se, assim, estimular a visão socioambiental das comunidades do Vale do São Patrício sobre a conservação dessas e outras espécies do Cerrado e estimular a cadeia produtiva dos frutos cagaita e gabiroba. Iniciamos em janeiro de 2024.

Letícia Jury - Quais os outros projetos já participou? Qual a importância deste e o que ele traz de diferencial?

Joelma de Paula- Os projetos que participei nos últimos anos envolvem essencialmente pesquisa, desenvolvimento & inovação de produtos a partir da nossa biodiversidade, com foco em plantas do Cerrado, mas não exclusivamente deste domínio geográfico. Mais especificamente, temos trabalhado com PD&I, numa perspectiva sustentável, voltada para a promoção da economia circular, ao investigarmos possíveis reaproveitamentos de resíduos ou subprodutos gerados na cadeia produtiva de plantas do Cerrado. 

Letícia Jury - Pode citar alguns? 

Joelma de Paula -  Aplicabilidades de coprodutos ou resíduos agroindustriais do Cerrado: pesquisa e desenvolvimento de bioprodutos do estigma do milho e da gabiroba;  Aproveitamento potencial de resíduos agroindustriais de frutos do Cerrado na produção de medicamentos, alimentos ou cosméticos; Aproveitamento de resíduos dos frutos de Eugenia dysenterica (Mart.) DC.: potencial para a produção de bioprodutos e bioinsumos; Resíduos do processamento do ipê (Handroanthus spp. e Tabebuia spp.): investigação sobre seu potencial aproveitamento na obtenção de bioinsumos e bioprodutos.

Letícia Jury - Os projetos mencionados acima demandam pesquisas laboratoriais?

Joelma de Paula- Sim, chamamos de pesquisa de bancada. São anos de pesquisas e experimentos para se chegar a um produto com aplicabilidades na medicina, cosmética, veterinária ou alimentação. O maior diferencial desses projetos em relação ao projeto “Condefé tem cagaita e gabiroba no Cerrado” está na possibilidade de, neste último, rompermos as fronteiras do laboratório e adentrarmos o ambiente das comunidades. O projeto Condefé leva a Universidade até as comunidades, desmistificando tanto os conceitos que elas têm da Universidade quanto os nossos próprios conceitos referentes à forma como as comunidades interagem e interferem no Cerrado. O aprendizado é mútuo e muito rico.  

Letícia Jury -  Qual a importância do projeto para a experiência docente?

Joelma de Paula - Como já mencionado, a reciprocidade, sem dúvida é o que há de mais importante no projeto. Compartilhamos conhecimentos de forma mútua. Famílias dos assentamentos, pesquisadores (professores) e alunos pós-graduandos aprendem uns com os outros, criando um ciclo de troca de informações, experiências, ensino e aprendizagem. Temos a oportunidade de fazer uma verdadeira imersão na realidade das comunidades, que serão diretamente impactadas com os resultados das nossas pesquisas. É uma experiência incrível, difícil de traduzir em palavras. E o melhor é que o projeto está apenas nos seus seis meses iniciais, ainda há muito chão para percorrer.

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*Equipe

Coordenadora: Joelma Abadia Marciano de Paula

Colaboradores docentes: 

André José de Campos

Cristiane Maria Ascari Morgado

Josana de Castro Peixoto

Leonardo Luiz Borges

Eliete Souza Santana

Colaboradores discentes de programas de pós-graduação da UEG:

Anielly Monteiro de Melo - RENAC

Fernando Gomes Barbosa - RENAC

Charles Lima Ribeiro - TECCER

Marcio Júnior Pereira - TECCER

Leonardo Gomes Costa - CAPS

Monatha Nayara Guimarães Teófilo – RENAC

Marco Aurélio Batista – RENAC 

Danielle Gonçalves Teixeira dos Santos – RENAC

Ailyn de Oliveira Vilela – RENAC

Colaborador de Goianésia:

Manoel Henrique Reis de Oliveira

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