"Já somos poucos na sala de aula; será que somos menos ainda nas redações?", indaga Lucas Tavares
Do TCC ao livro Sobre Nós: Trajetórias de Jornalistas Negras e Negros em Goiás — a riqueza do jornalismo negro em Goiás, por Lucas Tavares.
Letícia Jury
20 de novembro de 2024
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O livro Sobre Nós: Trajetórias de Jornalistas Negras e Negros em Goiás deve ser lançado no início do próximo ano. Ele é resultado da pesquisa de conclusão de curso do jornalista Lucas Tavares, que realizou sua graduação na Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) da Universidade Federal de Goiás. Como destaca o autor, as últimas revisões estão sendo realizadas para que a obra seja inscrita nos editais de fomento à cultura.
Em entrevista ao Baru, Lucas Tavares falou sobre a escolha da temática para o TCC, um despertar para a ausência de representatividade nas redações em que trabalhava. “Comecei a procurar nas redações e a perguntar para os meus colegas: quantos jornalistas negros você já trabalhou junto? Você conhece algum jornalista negro? Muitos passavam um tempo pensando para me dizer um nome. Já somos poucos na sala de aula; será que somos menos ainda nas redações?”, conta.
Na apresentação do livro, Lucas Tavares reafirma que o objetivo da obra é proporcionar uma visão mais profunda sobre a trajetória de jornalistas negras e negros em Goiás, entender o impacto do racismo na vida dessas pessoas e as estratégias de enfrentamento encontradas por cada uma delas.
“Cada pessoa carrega dentro de si um universo. O que trago aqui é uma pontinha de uma estrela que enxerguei em cada um. Uma apresentação a partir do que eu vi e senti. Este livro também é sobre busca. Reconhecer-se no outro. Mergulhar em uma nova história e explorar lugares que jamais imaginei”, relata.
Com uma diagramação moderna, criativa e com destaque para as principais frases dos entrevistados, a obra encanta pelo conteúdo e pelo visual. Ilustrações, fotos e tipografia das fontes complementam a ideia de Lucas Tavares de mostrar a força e a importância do jornalismo negro em Goiás.
Baru - As nossas pesquisas partem das nossas inquietações. Me fala sobre a escolha do tema do seu TCC?
Lucas Tavares - Logo que veio o TCC, eu já gostaria de pesquisar sobre Jornalismo Negro e história negra, que foi a temática em que quis me aprofundar além dos conceitos básicos do jornalismo. Já trabalhando em redação, me veio aquela percepção de que faltava representatividade. Comecei a procurar nas redações e a perguntar para os meus colegas: "Quantos jornalistas negros você já trabalhou junto? Você conhece algum jornalista negro?" Muitos passavam um tempo pensando para me dizer um nome. Já somos poucos na sala de aula; será que somos menos ainda nas redações?
Baru - Quais são seus objetivos e como compreende as contribuições da pesquisa?
Lucas Tavares -Busca por identificação, de me reconhecer dentro desse espaço que é o jornalismo, enxergar as pessoas iguais a mim. E o desejo de que essas pessoas sejam mais reconhecidas, você falar em jornalismo em Goiás e pensar em um desses que eu cito no TCC. Alcançar outras pessoas. Parte de uma preocupação minha, mas que, no futuro, com o livro publicado, mais jovens que entrarem na faculdade de jornalismo poderão se reconhecer nesses profissionais, que têm histórias singulares, mas que têm algo em comum, como a luta por conseguir estudar.
Baru - Como escolheu os profissionais para a entrevista?
Lucas Tavares-Busquei profissionais de diferentes áreas e diferentes gerações, dois homens e três mulheres, e todos têm em comum essa luta por conseguir estudar, de enxergar na educação uma saída para a desigualdade, uma busca por uma vida financeira mais confortável. Apesar de serem de diferentes gerações e áreas do jornalismo, isso é algo em comum. Foi uma busca ativa: fui perguntando para os meus colegas de redação, de outros jornais. No início, foram poucos nomes; foi difícil achar as cinco indicações. Enquanto eu conversava com os cinco escolhidos, eles iam trazendo nomes, referências, e aí percebi que tinha vários outros, mas o projeto já estava avançado. Faltavam apenas quatro meses para concluir o TCC. Descobri professores de Jornalismo com quem seria incrível conversar também. O critério foi a diversidade geracional e de área: Almir Costa, da TV; Jordânia Bispo, que é da assessoria; Noêmia Félix, como professora; Rauane Rocha, que na Faculdade atuou na rádio, apesar de escrever poemas; e Thales Luan, que foi mais para a área empresarial.
Baru - Me fala sobre a ideia do livro e da importância de deixar a pesquisa registrada, como parte da história da FIC (Faculdade de Informação e Comunicação) e de uma luta por representatividade.
Lucas Tavares - Quando você começa, você tem aquela ideia de que é um trabalho da Faculdade, não enxerga a dimensão. E, quando apresentei naquela correria, a banca e minha orientadora, Luciene Dias, me provocaram para publicar o livro, que deveria chegar às escolas e às universidades de jornalismo. Terminei a Faculdade e já fui para o mercado de trabalho, com aquela preocupação de ter um salário, e acabei deixando de lado, mas sempre com a vontade de que mais pessoas lessem. Enviava o arquivo para um amigo, para outro; mas agora já comecei a procurar formas de editá-lo, principalmente por meio dos editais de fomento. Nossa expectativa é de que no começo do ano que vem o livro seja lançado.