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"Pragas em monoculturas refletem o desmatamento e o desequilíbrio ambiental", diz Álvaro Gonçalo

O engenheiro agrônomo da Emater-GO e presidente da Associação de Produtores Agroecológicos de Anápolis e Região, Álvaro Gonçalo Rodrigues, é direto ao afirmar que, para os produtores orgânicos, não existe praga agrícola.

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Letícia Jury

03 de outubro de 2024

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O engenheiro agrônomo da Emater-GO e presidente da Associação de Produtores Agroecológicos de Anápolis e Região, Álvaro Gonçalo Rodrigues, é direto ao afirmar que, para os produtores orgânicos, não existe praga agrícola. Segundo ele, os insetos que atacam as monoculturas são uma reação ao desmatamento, ao desequilíbrio ambiental e à perda de biodiversidade, fatores que alteram a ordem da natureza. “Eles se tornam pragas em decorrência do manejo criminoso do meio ambiente. Em áreas sem árvores ou vegetação nativa, eles atacam o que resta, como a soja, por exemplo”, explica.

Álvaro complementa que, quanto mais pragas surgem, mais as indústrias de venda de 'venenos' lucram, assim como o que ele define como bancada ruralista de Brasilia. “Os agrotóxicos são os ‘cidas’: inseticidas, fungicidas, herbicidas. Infelizmente, o Brasil é o maior usuário desses produtos, incluindo muitos que são proibidos nos Estados Unidos e na Europa, comprovadamente cancerígenos. O Brasil acaba funcionando como uma lata de lixo das indústrias responsáveis pelos inseticidas ao redor do mundo”, lamenta.

Segundo ele, há alternativas para o cultivo agrícola, como na produção orgânica, que utiliza defensivos que não prejudicam o solo, nem os microrganismos e a biodiversidade. “É um crime o que acontece no Brasil, com o lobby pesado e a bancada ruralista ignorando o risco cancerígeno. É algo absurdo. Não se importam com a saúde da população”, denuncia.

Métodos alternativos têm sido utilizados há décadas por produtores, que ele define como conscientes e responsáveis. “Trabalho com agricultura orgânica há 20 anos aqui na Emater”, conta. Álvaro Gonçalo destaca o controle alternativo de pragas e doenças, que envolve uma série de soluções, como o controle biológico, caldas e vários produtos de plantas, que não afetam o meio ambiente nem a saúde. “O produtor pode cultivar dentro de estufas. Na agricultura orgânica, há defensivos à base de leite e há várias literaturas disponíveis sobre o uso de plantas como arruda e fumo, o que resulta em um ambiente equilibrado, com a biodiversidade intacta”.

Recentemente, Álvaro Gonçalo cita um caso recente do controle de uma cultura que sofria ataques do inseto ‘vaquinha’, controlado por meio agroecológico com extrato de pimenta malagueta e sabão. Ele reafirma que os defensivos naturais são produtos feitos a partir de substâncias que não prejudicam a saúde humana nem o meio ambiente, o que resulta na produção de alimentos mais saudáveis. 

“Esses produtos apresentam baixa ou nenhuma toxicidade, são eficientes no combate a insetos e microrganismos nocivos, além de serem acessíveis e de baixo custo. Entre eles, destacam-se agentes de biocontrole, biofertilizantes líquidos, caldas, feromônios, extratos de plantas e óleos. Quando aplicados, esses defensivos estimulam o metabolismo das plantas, aumentando sua resistência a ataques”, detalha.

Álvaro Gonçalo cita ainda que, na própria agricultura tradicional, já se busca o uso de bioinsumos como alternativa. 'São produtos que controlam doenças e agridem menos o meio ambiente, a biodiversidade e a saúde humana. A Embrapa já está desenvolvendo, e muitos produtores do agronegócio já utilizam essa alternativa sustentável. É uma esperança, mas é preciso ter cuidado para que as multinacionais dos agrotóxicos não dominem e controlem o mercado de bioinsumos', afirma.

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