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Para presidente da Cerrado de Pé, o cuidado com o bioma é diferente, há uma alegria em preservar

Cintia de Oliveira Silva Carvalho conta que são 240 famílias associadas a Cerrado de Pé, sendo que 70% são mulheres, que ocupam seus espaços e seu protagonismo na luta pela conservação e restauração das áreas.

Um placeholder qualquer

Letícia Jury

20 de agosto de 2024

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Um olhar não capitalista e anti-predatório sobre o Cerrado. Enquanto muitas políticas públicas ineficazes visam explorar o bioma para fins comerciais, e se apropriam de termos como sustentabilidade e desenvolvimento sustentável para mascarar a exploração dos recursos, as comunidades tradicionais, de fato, sobrevivem do Cerrado de forma harmônica e mantêm a preservação.

O Baru Observatório de Jornalismo Ambiental conversou com Cintia de Oliveira Silva Carvalho, atual presidente da Associação Cerrado de Pé, que atua na região do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, incluindo assentamentos da reforma agrária e o Território Quilombola Kalunga, considerado o maior remanescente do país.

Em pouco tempo de entrevista, já foi possível perceber que a relação com o bioma é de respeito e valorização de toda a sua biodiversidade. “O Cerrado é vasto; quando vemos o que ele pode nos oferecer, é gratificante. Por isso, nos empenhamos em protegê-lo ao máximo. Ele é hoje considerado a caixa d'água do Brasil, um dos maiores biomas do país”, ressalta.

A presidente conta que 240 famílias são associadas à Cerrado de Pé, sendo que 70% são mulheres, que ocupam seus espaços e protagonizam a luta pela conservação e restauração das áreas. Para ela, o modo de se relacionar com a natureza local é diferente da exploração comercial: “O beneficiamento é diferente; o cuidado que cada mulher tem com sua semente é diferente. Com a restauração, elas sentem a alegria de fazer parte da Cerrado de Pé.”

Essa é a mesma alegria e satisfação que Cintia Carvalho sente: “Para mim, é especial. O ar que respiramos, sem poluição; as frutas que colhemos direto do pé; e com elas fazemos tantas coisas, como geleias, doces, óleos, pães. Isso é gratificante para nós. Estamos verdadeiramente buscando políticas públicas. Amamos o Cerrado e aprendemos a cuidar dele de maneira especial”, destaca.

Cerrado de Pé

Em 2009, a comunidade, junto ao ICMBio, identificou a necessidade de restaurar o Cerrado para evitar grandes incêndios, que eram agravados pelas pastagens abandonadas. As primeiras atividades se iniciaram em 2012, com experimentos nessas áreas no interior do PNCV. A pesquisa, conduzida pelo ICMBio em parceria com universidades, promoveu o treinamento sobre a coleta de sementes nativas na região. Ao longo dos anos, as famílias locais continuaram a atuar na coleta de sementes, atendendo demandas de restauração ambiental, paisagismo e pesquisa científica, além de utilizarem essa atividade como forma alternativa de renda. Em 2017, essas famílias formalizaram a Associação Cerrado de Pé.

Em seis anos de existência, tendo como principal parceira a Rede de Sementes do Cerrado (RSC), a Cerrado de Pé já capacitou 240 famílias em coleta de sementes. Atualmente, é composta por cerca de 150 coletores das comunidades do entorno do Parque: Assentamento Silvio Rodrigues, Vila de São Jorge, Colinas do Sul, Alto Paraíso de Goiás, Teresina de Goiás, Cavalcante e Comunidades do Território Quilombola Kalunga, sendo 78% mulheres. Nesse período, a coleta de sementes gerou R$ 1.400.000,00 em renda para as famílias envolvidas. Em 2022, a Cerrado de Pé iniciou plantios de restauração ecológica e, até o momento, já realizou a restauração de 90 hectares no Cerrado. (Fonte: cerradodepe.org.br)

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