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Desejo de explorar outras culturas despertou o interesse do jornalista Samuel Leão pela pesquisa sobre os Xavantes

Inicialmente, seu objetivo era desvendar a origem de uma língua escrita a partir da língua oral Akwen, do grupo Macro-Jê, ainda falada pelos Xavante, conhecidos como A’wuê Uptabi. Posteriormente, surgiu a ideia de criar uma cartilha. A pesquisa de mestrado ainda está em desenvolvimento.

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12 de abril de 2024

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Letícia Jury

Samuel Leão é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás e atualmente é mestrando do programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado, da Universidade Estadual de Goiás. Desde a adolescência, ele se encantou com a potência e versatilidade do jornalismo. Estava decidido a cursá-lo, decisão que tomou em 2016, quando ingressou na faculdade. No entanto, na inocência da  pouca idade, segundo ele, não sabia qual área seguir. 

Mais tarde, ele se despertou para a possibilidade de dedicar-se à prática antropológica e ao audiovisual, duas outras paixões que carrega. Começou então a pesquisar os Xavante e a gravar um documentário. "Enquanto pesquisava, percebi, por meio do meu orientador, a possibilidade de explorar outras áreas na pós-graduação, e assim surgiu o desejo pelo mestrado, que hoje estou trilhando", detalha.

Questionado sobre a escolha pelo povo Xavante, Samuel Leão menciona que, além do incentivo inicial de sua criação por uma historiadora e um economista progressistas, apaixonados pela cultura brasileira e pelas pessoas, ao longo do caminho ele desenvolveu um enorme desejo de conhecer outras culturas.

"Descobri encantos no Nordeste e Sudeste brasileiro, até onde meu corpo conseguiu alcançar, mas sempre fui estudioso de línguas, como uma forma de acessar outros contextos humanos. Assim, aos 19 anos, havia aprendido inglês e cursava italiano. Em um belo dia, esse conhecimento veio a calhar, uma parente que trabalha na Funai iria para uma aldeia Xavante, levando uma amiga etnomusicóloga inglesa que cursava mestrado na University of London. Sabendo que eu já possuía um bom domínio do inglês e que também tinha vontade de conhecer as aldeias, fui convidado a acompanhá-las, atuando como tradutor", detalha Samuel Leão acerca do seu primeiro contato com povos tradicionais.

Foi uma experiência de quase uma semana em uma aldeia com cerca de 200 pessoas, uma vivência que marcou profundamente o jornalista. "Ali, vi uma cultura a ser não só descoberta, em minha perspectiva pessoal, mas também revelada para a sociedade civil brasileira como um todo. Me apaixonei pela beleza contida nas diferenças e passei a estudá-los", conta.

Quanto à pesquisa de mestrado, ele explica que inicialmente pretendia desvendar como surgiu uma língua escrita a partir da língua oral Akwen, pertencente ao grupo Macro-Jê e ainda falada pelos Xavante, que se autointitulam A’wuê Uptabi. Durante a produção do documentário, ele percebeu a dificuldade de extrair informações aprofundadas, especialmente dos anciãos, sem saber o idioma. Ele conta que conseguiu a companhia de um tradutor nativo, formado em antropologia pela UNB, que possibilitou a conclusão da obra.

Ao longo da pesquisa, Samuel Leão percebeu um distanciamento e uma dependência de intermediários, que invariavelmente interferem na mensagem, principalmente entre ele e os indígenas. Foi então que sua proposta evoluiu para a elaboração de uma cartilha, que não se aproxima de um dicionário, mas que pretende introduzir os não falantes à língua Xavante Akwen, com as frases e palavras mais recorrentes, de modo a possibilitar maior integração entre a população do Mato Grosso e qualquer outro visitante, com os indígenas das nove reservas Xavante homologadas pelo Governo Federal.

Sobre a pouca divulgação de pesquisas como essa na sociedade, Samuel Leão acredita que haja uma via de mão dupla, pois há um desinteresse generalizado devido à falta de difusão das culturas indígenas, e essa falta de difusão ocorre porque não há público, também chamado de mercado, devido ao desinteresse generalizado.

"Apesar do crescimento dos estudos decoloniais, que buscam descentralizar o eurocentrismo e voltar o olhar do mundo para os variados polos de civilizações tradicionais, agora com projeção especial para a China, tanto a mídia jornalística quanto o mundo do entretenimento seguem repetindo velhas formas 'bem-sucedidas' de produzir e difundir informação", opina.

Para ele, desmascarar mitos, expor saberes e práticas milenares são bons começos para gerar um maior entendimento e interesse pelos povos originários. Além disso, colocá-los em pé de igualdade do ponto de vista da independência financeira e até política é fundamental. "Construir esferas de poder entre os povos indígenas e permitir que eles interajam com a sociedade civil, a qual também deve ser municiada de educação acerca deles, pode gerar um fluxo harmônico de troca e reconhecimento entre ambos os universos, que certamente não são tão distintos quanto podem aparentar", aponta o pesquisador.

 

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